quinta-feira, fevereiro 19

01:49 da madrugada

Eu quase sempre fui desse jeito de me esconder atrás de um sorriso desconjuntado, mas sincero.
- Existe isso? De se esconder atrás da sinceridade?
Quase sempre quis assim.
Não causar muito tumulto, nem tentar muito conflito, mesmo que doa por dentro.
Nunca soube dizer se isso era bom ou ruim, afinal de contas, estava sempre disposta a ouvir com ouvidos bem abertos, na tentativa de confortar o mínimo da angústia de quem me falava.
Mas nunca soube dizer se isso era saudável.
A música sempre foi em mim muito orgânica. Simplesmente gostava de tocar meu violão e, talvez, criar letras em cima dos acordes desconexos que eu fazia. Isso me trazia uma mistura de solidão recheada de plenitude. Daí, eu não precisava ouvir nenhum ruído do mundo, nada pronto, tudo o que soava era o incerto, o acaso que poderia surgir de cada nova nota.
Eu gostava disso.
Desde pequena meu lugar de criação era meu quarto. E lá eu entrava nessas viagens infinitas com meu violão. Minhas letras nunca falavam de amor. Costumavam falar de dúvida, existencialismos, angústias.
Sempre me perguntava se eu era triste ou se, na verdade, só era questionadora mesmo. Ou se o primeiro era condição do segundo - e vice versa - não sei. Até hoje. Acho que só com o humor para converter.
No fim de tudo, acho que eu gostava mesmo era dos meus ouvidos. Quando não escutava alguém contando um caso da vida, estava percebendo os sons do mundo. Sempre me acalmei com os sons da natureza. Calmos, sem angústia, sem ansiedade. E deve ser por isso que escrevi tantas letras sobre isso.
Nunca gostei do silêncio.
Minha mãe dizia que era medo - medo de se ouvir e de se encontrar, de entender os próprios temores.
Talvez.
Mas sempre escutei muito bem meus sentimentos quando estava acompanhada de algum ruído.
Nem de noite consigo ficar sem. Gosto de dormir ouvindo música, até com alguém falando. Até conseguir cair no sono.
Hoje, eu decidi trilhar dois caminhos na minha vida: ouço as pessoas e faço músicas para que elas possam ouvir.
Acho que me faz bem. Sem certezas, é claro.
Mas taí uma coisa que faz o meu sorriso ficar desconjuntado: Falar.
Não só falar o que penso, porque disso eu até manjo,
Mas falar com o corpo, atuar minhas vontades. Muitas vezes bebo uma cerveja para acabar com isso.
Tenho medo de ficar vazia também. De não ter mais o que expressar, de achar que o mundo é só um desdobramento de um todo que não faz o menor sentido. Temo não me encantar mais com esse desdobramento. E ficar sem graça.
Aí todos os dias eu acordo e tento me entorpeçer com as cores que existem em volta de mim. Às vezes eu até consigo, por outras, fico fraca com o não-sentido. E aí eu quero dormir e me alimentar de alguma escuta: ou uma música, ou alguém que diga qualquer coisa de ter fé, e para ela não falhar.
Sei que cada dia eu acordo, e tenho um acaso. Ou eu caso com ele, ou não dá.
E sigo assim.
Escutando um som, uma gente, um vento.